GRUPO 2

LITERATURAS E CULTURAS AFRICANAS

Coordenadora – Ana Paula Tavares


Grupo 2 do CLEPUL: Literaturas e Culturas Africanas- Proposta de Criação/ Arquivo pessoal Professora Vania Chaves.


Muitos anos depois o grupo dois do CLEPUL – Literaturas e Culturas Africanas de Língua Portuguesa – trabalha com o universo de cinco literaturas construídas em português e originárias de geografias e contextos culturais muito distintos. Assim procura aprofundar o conhecimento e orientar-se para a individualidade e características de produção de cada uma das literaturas, privilegiando o diálogo e o sentido de inovação que nos vem do continente africano.

É passado o uso “de países africanos de expressão portuguesa” e não constitui linha de investimento fundamental da investigação a procura dos elos literários que ligam as literaturas africanas aos seus anteriores países colonizadores, certos de que uma nova arrumação do mundo exige novos olhares e afinação da teoria.


Linhas de Investigação

O trabalho com fontes recuperadas de jornais e outros periódicos trabalha com a história do jornalismo dos países africanos de língua portuguesa tendo em conta as circunstâncias e condições para o seu surgimento, as práticas jornalísticas, motivações ideológicas e sistema comunicativo; a caraterização geral dos jornais e dos jornalistas, as questões da construção da identidade e suas relações com os jornais dos séculos XIX e XX. Angola e Cabo-Verde e Moçambique são os locais de escolha e partida para se traçarem os perfis dos autores e a relação criativa destes com os meios que utilizam para romper silêncios e inscrever seus nomes em cânones literários a estabelecer. A reunião de textos e dos seus autores e sua publicação em livro e ou em jornais da atualidade foi um dos objetivos que podemos considerar cumpridos. São exemplos a edição Fac-similada do Almanach Luso-africano de Lembranças para 1899, organizados por Alberto de Carvalho (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) e João Lopes Filho (investigador de Cabo-Verde). João Albasini e as luzes de Nwazendzengele reúne crónicas do autor de Moçambique publicadas nos jornais O Africano e O Brado Africano, reunidas por Fátima Mendonça (Universidade Eduardo Mondlane/CLEPUL) e César Braga-Neves (Universidade de Berkeley/CLEPUL) e ainda Crónicas da Roda Gigante de Ernesto Lara Filho e Textos dispersos de Alda Lara agora (2013) publicados no Jornal Angolano Cultura, acompanhados de Estudos introdutórios e contextualizantes.

A receção dos movimentos modernistas nas literaturas africanas de língua Portuguesa com vista a recuperar a relação entre estas literaturas e os movimentos modernistas do mundo. Estuda-se o aparecimento da modernidade literária e sua convergência com os movimentos da Negritude, Renascença do Harlem, Modernismo Brasileiro, Surrealismo, Presencismo e Neorrealismo para perceber a delimitação e caracterização do quadro Histórico social e cultural das receções estéticas e éticas veiculadas. Veja-se a título de exemplo António Jacinto: e a sua época aqui.

Literatura e Pedagogia escolar que visa ligar a academia e o CLEPUL à escola secundária tendo especial preocupação com a fenomenologia da linguagem criativa nas literaturas dos países onde se fala e escreve a língua portuguesa, com a pedagogia do ensino-aprendizagem em idade escolar e ainda a transposição dos saberes para as diversas praticas de diálogo multicultural, tendo em conta que muitas vezes se aprende pela literatura. O grupo empenhou-se no levantamento sistemático dos textos que em língua portuguesa dão voz a outras realidades com vista a torná-los conhecidos e estudados numa idade (o ensino secundário) em que se ensaia o aprendizado da cidadania. Os contatos com o Instituto Camões e a DGLAB (Direção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas), iniciadas quando se tratava ainda do Instituto do Livro e da Leitura potenciam a organização da base de dados preparada.

Observatório para a descolonização da Academia – Seguimos a proposta do escritor e ensaísta queniano Ngὒgi wᾰ Thiongo, Decolonising the mind e procurámos ler e problematizar os textos (novos e antigos) sobre teoria, em sessões regulares e com a colaboração das Universidades de S. Paulo (USP) e Brasília de forma a organizar a “Biblioteca Decolonial”.

O Projeto Afrolab – A Construção das Literaturas Africanas em Português: Instituições e Consagração dentro e fora do Espaço de Língua Portuguesa (1960-2020)  investiga a constituição e institucionalização das Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, tanto no espaço literário português como no Sistema Literário Mundial. Nosso objectivo principal é estabelecer em que medida as Literaturas Africanas de Língua Portuguesa são uma criação institucional de agências baseadas em Portugal e até que ponto a sua mundialização está sob controle de agências não africanas. Inspirados pelo trabalho que Claire Ducournau realizou sobre a institucionalização da Literaturas Africanas em Língua Francesa, e seguindo o enquadramento teórico de Helgesson e Vermeulen, sobre instituições literárias, tencionamos provar a hipótese de que as Literaturas Africanas de Língua Portuguesa são uma criação muito mais europeia do que africana. Assumimos que a promoção internacional conseguida através da tradução destas obras – com o poder implícito de consagração e canonização que ela implica – é sobretudo controlada por instituições não africanas. Além disso, um dos objetivos deste projeto também é compreender como e por que razão, a partir da crise financeira de 2010 na Europa –com intensas repercussões no mercado cultural e editorial –, o interesse deslocou-se dos autores africanos para uma nova geração de autores europeus afrodescendentes. Ou seja, por que esta mudança ocorre e de que forma ela está ligada à relação de Portugal com o seu passado colonial? Apesar de algumas instituições a considerarem uma continuação direta e contemporânea das literaturas africanas, tal continuidade não é líquida para nós. Por último, partindo do enquadramento teórico dos estudos pós-coloniais e decoloniais, avançamos para uma tentativa de representação fidedigna das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e da literatura afrodescendente em Portugal, considerando as políticas editoriais e a visibilidade de cada escritor. Teremos também em conta os ecos da produção literária e editorial do continente africano e a particularidade de cada país.